A minha avó.

A meu ver ela sempre foi gordinha e com rosetas nas maçãs do rosto. Os olhos pequeninos têm a cor escura das castanhas e também os sinto quentes e reconfortantes como elas.  


Quando entro em casa a minha avó olha para mim e faz-me um sorriso travesso porque já sabe que lhe levo um cesto cheio de peripécias para contar. A maioria das quais são passadas em chamada com os meus clientes chatos, por vezes engraçados, mas quase sempre surdos.  Não sei onde ela encontra a paciência necessária para me ouvir, na verdade.
À hora da refeição pergunta-me o que é que eu quero e enquanto sonho com a bela sopa que só ela faz ou o bacalhau à Brás com uma textura quase cremosa, respondo "qualquer coisa" porque hoje em dia, depois de ficar doente, já pouco cozinha. Mas ainda que fique cansada demais para pegar na colher de pau, eu ainda tenho presente a imagem da minha avó como sendo a mais durona de todas. "Ti Maria má modos" é a alcunha pela qual é conhecida no bairro porque deu a vida ao café que geria com o meu avô e sempre que os clientes lhe perguntavam por um copo a mais sem pagar ela punha uma mão sobre o cotovelo e levantava o punho cerrado. Depois apontava para a figura de cerâmica do Zé Povinho e dizia "aqui não há fiado"!
E se lhe perguntassem por torradas o raio da torradeira estava sempre avariada à excepção de quando era para me dar um prato cheio. E por falar em prato cheio eu aprendi com ela que só um não basta. "Vá, come mais", diz ela. E eu como. Sou bem mandada e por esta altura também já tenho uma forma um pouco roliça à conta das calorias ingeridas.
Mas eu não me importo. Eu gosto.

Parabéns, avó. 74 anos é pouco.

Até Breve!

2 comentários:

  1. Ahahah adorei o final! Belated happy birthday to grandma!

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    1. Pensei no título "a minha avó faz anos hoje", mas depois achei que era muito óbvio! Suspense é a alma do negócio...

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